2 de outubro de 2018

Como o tempo passa quando a gente se diverte...

Um blog. Que coisa mais antiga, que coisa mais nova, que coisa mais louca. Vou passando as páginas, olhando as datas e sei que tudo aqui é marcador do meu coração, memória em letrinhas e sentidos que fazem efeito se relidos e me dizem: é isso aí, você estava certo - não no sentido racional da certeza - mas no sentido emocional dela, de ir atrás do que se gosta e ama e quer. Por isso a gente escreve, para deixar este rupestre sinal marcado na pedra da nossa memória e da memória dos que nos leem e se identificam.

Um blog. Que coisa mais revolucionária, que coisa mais tola. O mundo caminhou, as letras saíram do papel, hoje sou palavra dita, hoje sou todo movimento, hoje sou multimídia e quero vocês que tanto gostaram deste espaço, que ainda aqui chegam, que ainda chegarão, saibam: estou por aqui neste canal de vídeo de poesias faladas, chamado de POESIA REUNIDA, bonito, artesanal, primário, eterno, antigo, novo, louco, mas com muito afeto: https://bit.ly/2QpRqcu



Visitem. Sigam. Propaguem. Continuo acreditando no ensinamento de Adélia Prado: a poesia nos salvará!

28 de abril de 2013

Desconecte-se quem puder


Redes sociais nos distraem da poesia.
Hoje, por exemplo, não interessa contar onde estive, nem postar fotos e feitos.
Não curto o excesso de compartilhamentos dos momentos que só me dizem respeito.
Não curto ver o casal fotografando a comida e deixando escapar a cumplicidade.
Casal comendo fora é rito, é mito, é sexo, não escancare esta intimidade.
Há coisas que pedem segredo, mesmo as mais ordinárias.
Há risos que vivenciamos à dois, à sós
S.O.S! É isso o que fizemos de nós?

Reality-show patético,
Auto-Exposição sem freio,
Câmeras na mão, reflexão na sola do pé...
A discrição o quê que é?
O amor, fica no espaço entre um prato e um post?
Desconecte-se quem puder.

25 de março de 2013

Negrinho do Pastoreio (para Marco Feliciano)




Negrinho do Pastoreio (Poema para Marco Feliciano)

Feliciano nega suas raízes
Crespas, agora alisadas,
Negras, agora maldição
Seu cabelo é síntese do que tenta esconder, tentando encontrar redenção num pote de henê

Feliciano quer deixar de ser...
Sua mãe, cara de bolacha brasileira,
Não nega a étnica mistura.
Mas seu espelho reflete, diariamente,
o tamanho de sua tortura.
Vaga sem entender quem é
E se esconde sob o título de pastor. 
Grita coisas desconexas na igreja, mas à noite padece de desespero,
Insônia e dor

Feliciano tem raiva dos gays, 
Mas faz a sobrancelha!
E tem raiva da mulher divorciada
E da família monoparental
E de tudo que lembre a fragilidade do seu reflexo.
De tudo que revele sua problemática com sexo

À noite, quando se depara com o monstro que o devora
Feliciano chora, ora, mas Deus finge não ouvir. 

Quando sonha, é pesadelo
Chuvas de pirocas e grelos o perseguem em uma tribo negra
Acorda sobressaltado, faz o sinal da cruz e agarra a bíblia

Corre no armário e saca a fantasia de pastor
Um terno, seu único meio de ser tratado como "doutor"

Tenho pena deste homem,
Que distorce todos os princípios de amor que nos foi ensinado
E vive uma vida de dublê,
"Fiel perseguidor de viado"

Mas a verdade não vai calar:
Feliciano, está na cara,
Não adianta alisar. 

Seu DNA é de negro
Sua auto-maldição, degredo
Salve-se antes que acabe o tempo,
Afaste-se, antes que desabe o templo

David Lima

22 de setembro de 2012

L'Amour

"O tempo é uma invenção de gente incapaz de amar"


Outra vez mais o amor se apresenta
Passa por mim, fala comigo, suplica no meu ombro
Agora na forma desta moça de olhos duvidosos, pede conselhos
Vivido que sou, acha que sei sugerir caminhos...
Ele, o mesmo amor de ontem, fugido do tempo, bate na minha porta e pede ajuda
Eu, vítima dele, já restaurado da última batalha, aceno perdão
Respondo com candura e me apresento como seu maior soldado e defensor

O amor quando muda de gente, muda de comportamento e reassume novas formas
Quer questionar se ainda somos quem fomos e se ainda seremos quem pensamos
A gente é o que faz, não o que pensa,
É a atitude que define a sentença!

O amor coloca a máxima na ordem do dia
Esfrega na minha cara sua inexorabilidade, juventude, sacanagem, frescor
Eu sorrio e aconselho à moça que se entregue, que a vida é breve e  o amor dura o microlésimo de segundo em que hesitamos
O resto é só pensar em problema e, já sabemos,
estes são uma ocupação da matemática
Amor não, amor não é teorema

É preciso decidir!
Dê-se o direito de ir, deixe fluir, concluo, achando que trocadilhos da língua surtem efeito no coração da moça que duvida e suplica ao mesmo tempo e segue me olhando com seus olhos de bicho desconfiado
Eu, bicho escolado, dou o recado: Não afirme uma e outra vez  “E a minha vida?”
Amor é fugir com o circo, querida.

 22.09.2012
Rio de Janeiro

27 de julho de 2012

Mind the gap

Vão,  observo o espaço...
Entre o trem e a plataforma não!
Que a vida é curta,
e não há tempo pra divagar sobre o vagão

Glória!
Nao sou tão religioso
mas parou na estação...
E o caminho de casa é sempre sem retorno,
via reta sem baldiação

Ou você pega Pavuna,
ou vai de Saens Peña.
Ou você observa tudo,
ou escreve um poema.

Atenção!
Ao  embarcar, observe o vão poeta
fazendo poema no espaço.

Entre o trem e a plataforma,
admire toda forma de amor...
Quem sabe assim, um dia,
você veja poesia no metrô.

27 de janeiro de 2012

Se for engano

Esses afetos bloqueados
não eram parte do contrato
com a operadora do teu coração

Exija portabilidade destes sentimentos!
Exija atualização!

Você já tem muitos pontos acumulados...

Se o amor não der certo,
abra um processo no Procon!



21 de janeiro de 2012

tomate com ovos

enquanto tomates tardam para cozinhar,
ovos esperam intactos

ainda que minha fome seja voraz,
receita é passo-a-passo,
receita é esperar.

é preciso paciência
até pra cozinhar

11 de outubro de 2011

Eólico

A imagem dos cataventos espanhóis gerando energia em pleno deserto
nos ensina que devemos aproveitar os bons ventos.
É poesia viva, útil, reutilizável... 
Mesmo na mais dura aridez, é preciso ser renovável!

18 de julho de 2011

Antigíria

Nem todo evento tem que ser bafo
Nem toda dica fica
Nem todo mundo arrasa

Nem todo lugar é incrível
Nem todo segredo se abafa

Nem tudo na vida é: senta lá
Nem todo mundo "tá boa?"
Então vamos lá, aprimorar nosso vocabulário
Que essas gírias são divertidas
Mas a língua tem mais palavras
para enriquecer sua vida

Então da próxima não grite "adooooro",
Quando o que você queria era dizer que gosta muito
Não faça a louca quando a palavra é pouca.
Gíria é bom, mas tem limite
reedite o que sai da sua boca

22 de junho de 2011


Eólico

A imagem dos cataventos espanhóis gerando energia em pleno deserto
nos ensina que devemos aproveitar os bons ventos.
É poesia viva, útil, reutilizável... 
Mesmo na mais dura aridez, é preciso ser renovável!

(agradecimento a você que postou a palavra RENOVÁVEL e me inspirou um poema para esta imagem)